ATB - Aliança Transformers Brasil

Os Dias Mais Felizes de Megatron

Autora: RITA MARIA FELIX DA SILVA


Dedicatória: Dedico este conto ao amigo que encontrei em uma das salas do Mirc, que usava o “nickname” de “Megatron” e que me proporcionou um dos melhores diálogos dos quais já participei na Internet. Foi a partir de uma de suas frases (“Por que você não escreve uma história em que Megatron derrota o Optimus Prime?”) que esta história se inspirou e desenvolveu-se.


Parte 8: "A Epifania"

Para a maioria de meu povo, o que aconteceu em seguida foi o evento mais importante de toda a História de Cybertron. Havíamos retornado da guerra; os computadores de Megatron esquadrinhavam vorazmente o firmamento, em busca de novos mundos; e os Decepticons viviam uma vida sombria, curvados pelo medo e vergonha.

Lembro-me que eu revisava meus bancos de memória, especificamente o período em que estivemos exilados na Terra, buscando por algo que eu não sabia o que era, uma informação importante que sentia ter sido perdida.

Eu começava a questionar minha sanidade, quando os céus de Cybertron foram preenchidos por uma nuvem luminosa, cuja cor oscilava entre o branco e o cinza, e na qual crepitavam raios de eletricidade. Seu tamanho era colossal: pouco menor do que um sistema solar, acredito.

Ainda hoje, alguns poucos descrentes entre nós insistem em dizer que aquilo nada mais foi do que algum evento cósmico, que, de algum modo, induziu a uma alucinação coletiva. Sei que estão enganados e que insistirem nessa ilusão é a maneira de protegerem suas mentes diante da grandiosidade do que compreenderam.

Não nego que contemplei aterrorizado aquele acontecimento. Pelo que pude coletar de outros Decepticons - pois muitos de nós ainda se negam a falar sobre isso - a nuvem parecia ter vontade e desejo próprios e, por mais inconcebível que pareça, estava olhando para nós, analisando nossas mentes e nossas estruturas, cada átomo, cada porção de pensamento.

Enquanto isso, nossos cérebros eletrônicos foram tomados por uma infinidade de visões, com riqueza de detalhes que escapam a descrição de minhas palavras. A nós foi mostrado o Universo, toda a extensão dele, e não apenas no tempo presente, mais também fragmentos de passados e futuros e sonhos dissolvidos ou emergentes de alternativas e possibilidades... Toda a grandiosidade e beleza e terror do continuum espaço-tempo, dos quânticos e infinitesimais abismos subatômicos às mais vastas e relativísticas distâncias estelares...

Alguns de nós, enlouqueceram e cometeram suicídio, outros tiveram suas mentes destruídas para sempre. Os mais prudentes, como eu, escolheram sobreviver aquilo, ainda que vivamos deste então maculados por nosso temor da grandiosidade do Cosmo e a sensação de impotência por nossa insignificância diante dele.

Sempre tive um gosto quase vicioso pelas lendas, pela bizarra religiosidade de nosso povo, e talvez isto tenha me ajudado a entender e essa compreensão quase incendiou meus circuitos: aquela nuvem era uma manifestação da Grande Mente.

E, breve, ela ignorou a todos nós e voltou-se para Megatron e, de forma e com palavras que nenhum outro Decepticon pôde entender, falou com ele. Este ponto é um pouco nebuloso para mim. Pelo que pude abstrair, sei que a Grande Mente tinha um plano próprio para o Universo e, acredito, os atos de Megatron haviam subvertido essa ordem pré-estabelecida.

Sim. A Grande Mente tinha sonhos e nosso líder os havia destruído. Ela falou com ele e disse-lhe e mostrou-lhe coisas que... Não me atrevo a conjecturar o que foi...Porém, aquilo o afetou sobremaneira.

Tão súbito quando surgira, a Grande Mente se foi (e abençoado seja Cybertron por isso). Nós estávamos abalados e sem palavras. Megatron, porém, gritava em desespero, numa língua que jamais havíamos ouvido antes (e que nunca conseguimos traduzir). Ele continuou gritando – e seu lamento nos aterrorizou – e se refugiou de volta a sua torre e seu trono e, dali por diante, pouco foi visto por qualquer Decepticon.

Por vezes, ele voltava a gritar, naquela estranha e indecifrável língua, e seus gritos abalavam nossas frágeis mentes e arrancavam pedaços de nossa já combalida coragem...

E, então, todos compreenderam que os dias de felicidade de Megatron haviam, por fim, terminado de uma forma trágica."


(continua)
[ capítulo 9 ]