ATB - Aliança Transformers Brasil

As Meditações de Optimus Prime

Autora: RITA MARIA FELIX DA SILVA


Uma 'prequel' para o fanfic "Os Dias mais Felizes de Megatron".

Nota legal: Os direitos autorais de Megatron, Optimus Prime, Cybertron, Transformers e conceitos e personagens relacionados pertencem, unicamente, a seus criadores. Esta obra tem objetivos, apenas, culturais e de entretenimento, portanto, nenhuma forma de ganho, lucro ou transação financeira está sendo realizada aqui.


DO HOLO-DIÁRIO DE RATCHET, MÉDICO AUTOBOT:

"A guerra contra os Decepticons continua pródiga em sua selvageria. Eu me limito ao papel de salvar os feridos e - por infelizes e inevitáveis vezes - perder batalhas na minha disputa pessoal contra a morte, enquanto Transformers, de ambos os lados, sucumbem neste conflito insano e fratricida. Sinto falta de Cybertron e me pergunto se um dia poderemos voltar para lá.

Esse quadro me deprime de tal forma que me recolho a meus próprios estados de depressão e a este diário - um meio de fuga, o qual oponho a uma realidade capaz de afligir-me o cérebro.

Recentemente, pude participar de um seminário inter-espécies em Madrid - um abençoado intervalo em meio a este caos. Em minha exposição, pude esclarecer detalhes da fisiologia de minha espécie. Um deles diz respeito ao sono: Por razões que não pude, ainda, deduzir, persiste nos humanos a crença de que Transformers nunca adormecem, o que é um equívoco. Após um período de funcionamento prolongado/excessivo ou em situações bastante específicas, recorremos ao adormecimento, embora este difira dos ciclos regulares de sono humano.

Observemos, o caso, em particular, de nosso líder, Optimus Prime. Aqui em meu laboratório/enfermaria na Arca, ele encontra-se inerte, repousando em uma câmara de estase (que planejei de forma a mantê-lo a salvo de um ataque surpresa de nossos inimigos), um tubo de material transparente, preenchido por um líqüido que favorece o relaxamento, e conectado a micro-cabos que o ligam ao Teletran, nosso computador central.

No fluido corpóreo de Optimus, injetei um número considerável de nano-robôs, com comprimento aproximado ao diâmetro do núcleo de um átomo, que desempenham a tarefa de micro-câmeras, captando e gravando a atividade cerebral inconsciente do líder Autobot.

Nos últimos meses, Optimus Prime tem recorrido ao sono como um recurso para meditar sobre esta guerra e o futuro dos Transformers. Por solicitação dele, tenho monitorado as incursões de sono de nosso líder.

Inicialmente, vieram os sonhos, que chamaram minha atenção pela criatividade e, mesmo inocência, o que, imagino, seja um resquício de seus dias como Orion Pax. Todavia, e isso tem me preocupado sobremaneira, os sonhos de Optimus degeneraram para o que chamarei, grosso modo, de pesadelos. Entre estes, um está se tornando recorrente, o que tem pertubado excessivamente Optimus. Em resposta a isto, estou submentendo-o a tratamento psicológico, o qual, para não comprometer sua imagem perante os demais Autobots, mantenho em segredo.

Para melhor esclarecer esta questão, estou anexando a este holo-registro uma cópia da gravação do pesadelo a que me referi..."

HOLO-PROJEÇÃO DO REGISTO ONÍRICO Nº 32. ACESSO: EXTREMAMENTE RESTRITO.

"Eu sou Optimus Prime, Líder dos Autobots, eu fui criado em Cybertron, eu sou um Transformer e caminho por um cenário que parece extraído das idealizações humanas do Inferno.

Eu oro para a Grande Mente - que, em sua sabedoria e bondade, projetou o Universo - e repito para mim mesmo que isto é apenas um sonho, um subproduto inesperado de minhas meditações, e, de algum modo, esse pensamento me conforta e me permite manter a sanidade, enquanto minha mente grita e ameaça se despedaçar.

O Céu é sombrio, uma mistura obscena de tonalidades vermelho sangue e cinza, de uma forma como nunca vi. O ar fede a sangue, combustível, lama, metal derretido e carne queimada. Por toda a parte, posso ver escombros sufocando cada pedaço da superfície do planeta. E esta é a Terra, o mundo que jurei proteger.

Misturados as ruínas e entulhos, há pedaços de corpos Transformers e humanos. Dois passos a frente, tropeço na cabeça de Bumblebee e encontro um dos braços do orgulhoso Starscream. Próximo a estes horrores, outras lembranças olham para mim, quando me percebo diante do que restou do humano Spark.

Em seguida, caio de joelhos, ergo minha cabeça e meu grito desesperado procura pelos céus. Depois me levanto, viro-me de costas e começo a me afastar dali. Meu caminhar é fraco, pois minha alma está fragilizada.

Eu sou um Transformer. Abandono minha forma humanóide e refugio-me no modo veículo. Tudo muda de perspectiva e pareço mais simples, mais bruto, a salvo da dor... Apenas por um instante, pois logo o sofrimento e horror voltam a me atacar com igual intensidade e meus olhos invejam o dom humano de chorar.

Eu vago por aquele pesadelo, implorando que acabe logo. No percurso, minhas rodas esmagam corpos de amigos e inimigos e posso ver cada um deles, como se uma mão divina, porém insana, houvesse espalhado por aquele cenário todos que conheci em vida. Às vezes, porém, eu avisto cadáveres de formas de vida que jamais vi.

Tento não questionar a lógica deste local maldito, pois, por mais abominável que pareça, devo lembrar que é apenas um sonho. Porém, o mundo é pequeno demais em meu delírio e, logo, volto ao ponto inicial deste drama.

Um detalhe, contudo, chama-me, ainda mais a atenção: não avisto o corpo de Megatron em parte alguma. Talvez ao menos meu velho inimigo tenha sido poupado deste... Holocausto. Eu agradeço a grande mente se assim tiver ocorrido e percebo que ele riria de mim se soubesse que orei por ele.

Ainda em minha forma de caminhão, eu paro. Não há sentido em vagar por este mundo infernal e todo o horror que já vi ameaça derreter meus circuitos. Então, apenas espero, embora não saiba o que.

A noite não chega e nem mesmo o dia, tudo o que tenho é o céu sangrento e sombrio acima de mim, aprisionado em um instante eternamente intermediário e estático. Por alguns momentos, começo a imaginar que jamais acordarei e que, cedo ou tarde, também farei parte desses escombros.

Todavia, algo acontece. Uma força estranha... Poderosa demais... E insana... E maligna... Me domina... Toma conta de meus sistemas e obriga meu corpo a reverter a forma humanóide.

Quando o ataque mental termina, eu cubro meus olhos com as mãos. Eu estou surpreso e aterrorizado demais, pois nunca imaginei que algo assim pudesse existir. O destino, porém, não planeja me conceder mais tempo para reflexões. O chão estremece, enquanto algum tipo de agitação sacode as pilhas de escombros.

Eu escuto o que parece ser um urro animalesco, nada humano e que , talvez, apenas remotamente, lembre um Transformer.

Montes e mais montes de escombros e corpos se erguem no ar e se misturam, até formar dois braços colossais e uma cabeça monstruosa o bastante para não existir em qualquer reino, exceto nos pesadelos. Uma boca deformada aparece, seguida por olhos que congelariam a alma de qualquer ser vivente.

Tento manter o controle e atiro repetidas vezes contra o monstro, procurando alguma falha em sua estrutura. Ele, porém, não sente os disparos e uma de suas mãos me agarra e me ergue do solo, como uma criança furiosa preste a quebrar um brinquedo.

No instante seguinte, eu compreendo e falo:

_É você, Megatron? Você é o responsável por todo esse horror?

A boca da criatura se contorce no que poderia ser uma grosseria imitação de um sorriso e a cabeça do monstro se transforma até que a face de Megatron, como a conheço, está olhando para mim.

Preso em sua mão, eu luto para me libertar, porém meus esforços são neutralizados por uma força muito maior do que meus anseios. Sou tomado por uma dor como nunca imaginei existir, enquanto a mão de Megatron começa a me esmagar. Logo, posso escutar o barulho do metal que compõe meu corpo sendo amassado, rompendo-se... Até que nada mais resta de mim, exceto um escombro em estado semelhante a todos os outros daquele mundo.

Megatron ri e o som de sua felicidade maligna ofende as estrelas e os deuses. Então, ele me deixa cair e o que sobrou de meu corpo se precipita numa queda que dura horas.

Eu começo a queimar e a derreter. Visões apropriam-se de minha mente: por um momento pareço vislumbrar o mapa da Austrália; em outro, me vêem imagens fantasmas de Autobots circundando meu corpo caído, que logo são substituídas por cenas de humanos assistindo TV e chorando - chorando por mim; a última imagem é Megatron - em sua forma normal... Em uma das mãos ele segura a cabeça de Ratchet. E ele ri, e ri...

Eu grito e imploro que a queda termine. Eu atinjo o solo com um trovão. Não sou mais Optimus Prime: apenas o corpo semiderretido de um Autobot.

Acima de mim, Megatron, uma monstruosidade de escombros e cadáveres, grita em triunfo e olha para o céu, na direção em que está Cybertron. Ele ergue os braços e começa a crescer. Logo, toda a Terra é absorvida por seu corpo e ele continua, em direção ao espaço sideral, cada vez mais longe, atraindo para dentro de si mundos e estrelas. Até que ele fica tão grande que nada mais existe em todo o Universo... Exceto Megatron.

E eu apenas grito - pois sei que nada posso fazer diante disto, mas não consigo ouvir o som de minha voz...."

DO HOLO-DIÁRIO DE RATCHET, MÉDICO AUTOBOT:

"Optimus acordou gritando. Em desespero, ele facilmente despedaçou a câmara de estase. Aparentemente subestimei a força de nosso líder. Porém, um bom médico sabe contornar as adversidades. Disparo contra ele o conteúdo de uma seringa eletromagnética e, com o choque, o cérebro de Optimus é ressetado.

Enquanto seus sistemas se reinicializam, eu injeto em seu fluido corpóreo minha própria versão de um dos mais poderosos tranqüilizantes usados por nossa espécie. Em pouco tempo, consigo que Optimus sente e comece a falar.

Eu observei com atenção: todo aquele desespero... A dor em seu rosto e voz... Tudo tão humano... É normal que um Transformer absorva cultura de outras formas de vida com as quais entre em contato, mas, no caso de Optimus, sua simpatia pelos seres humanos chega a me espantar...

_Você viu, não foi, Ratchet? - ele indaga com voz hesitante.

_Sim, gravei tudo, como você me solicitou... Todo aquele pesadelo... - explico.

_Não foi um pesadelo! - ele grita, salta da cadeira e me agarra pelos ombros e, por um instante, ao invés de nosso líder, diante de meus olhos está um Transformer enlouquecido.

O momento, felizmente, passa e ele volta a se sentar e começa a resmungar, mais para ele mesmo do que para mim:

_Não foi um pesadelo... É o futuro... Uma visão do futuro...

Eu o conforto como posso. Aconselho-o a não se deixar levar por sua tendência ao misticismo. Recomendo que abandone essas meditações.

Com diplomacia ele me escuta, mas percebo que meus conselhos são inúteis. Ele permanece na enfermaria por mais algum tempo. Prossigo com o tratamento psicológico.

Depois, ele volta para os outros Autobots, coordenando um intenso treinamento de batalha, seguido por um conselho de guerra, pois se planeja um grande confronto contra as forças de Megatron ainda esta noite.

Permaneço na enfermaria e o observo pelos monitores. É notável como Optimus consegue nos liderar, mesmo com sua psique tão abalada. Ele é nossa esperança de vencer essa guerra. Sem Optimus, os Decepticons já teriam extinguido todos nós.

Então, volto a assistir a gravação do pesadelo de nosso líder e, embora não deseje admitir, também me sinto desconfortável diante daquelas cenas. Os humanos chamariam isto de ´mau pressentimento´. O fato é que algo extremamente desagradável percorre meus circuitos...

Ainda pelos monitores, assisto a Optimus Prime partir liderando o exército de Autobots exilados na Terra. E, subitamente, estou recorrendo a um hábito que abandonei há muito tempo: eu oro para a Grande Mente.

Primeiro, digo para mim mesmo que talvez eu também esteja precisando de tratamento psicológico, porém, logo ignoro minhas próprias críticas e apenas rezo pela segurança de nosso líder... E pelo futuro de minha espécie."


FIM